Outono


Parece-me que desta vez chegou mesmo o outono … as noites e as manhãs estão frescas e a chuva já cai. Tem coisas boas e outras menos agradáveis.

É bom não ter aquele calor insuportável que nos faz ficar estendidos no chão sem vontade de mexer uma pata, quanto mais saltar muros e correr pelos jardins… a temperatura assim é boa, já sabe bem dormir nas mantas e nos cestinhos que nos arranjaram para dormirmos, abrigados da chuva.

Mas a chuva é que torna tudo desagradável, ficamos molhados e estamos sempre a meter as patas nas poças por onde andamos …

Sei que algumas das madrinhas gostam do outono, de ver as árvores a encherem-se de cores diferentes, amarelas, laranjas, vermelhas e castanhas. Gostam de ver a dança das folhas quando sopra o vento, tal qual um bailado colorido, onde as bailarinas rodopiam ao som da música, volteando e saltando em bicos de pés até pousarem suavemente no chão.

Os sobrinhos pequenos gostam de correr atrás das folhas, brincando com elas quando estas esvoaçam com o vento.

Uma das madrinhas contou uma história engraçada sobre o outono, eu vou tentar contar-vos porque acho que vão gostar de saber porque algumas árvores tem as folhas vermelhas nesta altura do ano. Trata-se de uma lenda de uma tribo de índios que habitaram numa terra que hoje se chama Canadá (penso que vocês conhecem melhor do que eu).

Conta a lenda que há muito tempo atrás, os animais da floresta tinham um desejo muito grande de poderem observar a terra a partir do céu, como as aves que voam bem alto, no entanto não sabiam como lá chegar. Todos os meses reuniam-se num concilio e este tema era muito debatido, até porque corria um boato de que estaria a chegar uma nova raça, vinda do lado de lá do oceano e se todos os animais pudessem viver lá em cima, não haveria perigo para eles.

Um dia, a Tartaruga, que era o animal mais sábio, rezou ao Deus Trovão para que a ajudasse a chegar ao céu, o Deus ouviu-a e acedeu às suas preces. Quando chegou lá, disse que gostaria de morar numa nuvem que tivesse lagos, rios e cascatas como o seu habitat na terra e assim o Deus Trovão criou uma nuvem negra, bem recheada de água para ela habitar.

Todos os meses ela descia da nuvem par vir ao conselho dos animais, mas nunca revelou como tinha conseguido ir morar na nuvem negra.

O veado era um animal muito solitário, que gostava de passear pela floresta. Num dos dias em que o fazia, deparou com um belo arco-íris que estendia o seu caminho multicolorido desde a terra até ao céu. Pensou de imediato que daria uma bela estrada e perguntou-lhe se poderia subir por ela para chegar ao céu. O arco-íris, que não gostava de arranjar confusões, respondeu-lhe que teria de pedir autorização ao Deus Trovão, mas que o Veado voltasse no dia seguinte que ele já teria a resposta para lhe dar.

E assim aconteceu, no dia seguinte o veado voltou à floresta e o arco-íris informou-o de que o Deus Trovão tinha acedido aos desejos do Veado. Desta forma ele caminhou pelo arco-íris e chegou ao céu, tendo ido habitar uma nuvem dourada, da cor do seu pelo.

No mês seguinte, o Veado não compareceu ao concilio, o que provocou uma grande confusão em todos os animais e desde logo resolveram procurar por ele. Enviaram o Falcão, o Pica-pau, o Lobo, a Raposa e muitos outros para procurarem em todos os cantos da floresta, mas nada resultou. O Veado não se encontrava em nenhum local conhecido.

Quando a Tartaruga chegou ao concilio, estava tudo num alvoroço e rapidamente lhe contaram o porquê. “Não sabemos do Veado, ela desapareceu!” disseram. Ao que a tartaruga lhes respondeu com muita calma: “Ele está no céu, subiu pelo arco-íris e agora habita a nuvem dourada.”

Os animais ficaram muito zangados, por ele não ter dito nada e ter ido sozinho. O Urso ficou muito irritado e correu de imediato à procura do arco-íris para ir acertar contas com o Veado. Todos os outros animais seguiram-no, mas quando lá chegaram, já o Urso corria pela estrada colorida.

No cimo, chamou pelo Veado e quando este apareceu começou numa luta, espetando-lhe as garras no seu pescoço, o Veado não se ficou para trás e espetou os seus chifres no corpo do Urso e envolveram-se os dois numa luta desenfreada. O Deus Trovão ao saber da situação veio acalmá-los e aceitou que todos vivessem no céu, arranjando nuvens para que eles pudessem habitar.

No entanto durante a luta dos dois animais o sangue das feridas escorreu e atingiu as árvores que se encontravam no solo, tingindo as suas folhas mais ou menos intensamente e assim permaneceram até hoje. Em cada ano as folhas, nesta época, em que houve a disputa entre o Veado e o Urso, tingem-se de diferentes tons de vermelho e laranja, para caírem em seguida.

Os animais vivem no céu até hoje, e é por isso que vemos as nuvens de diferentes formatos, com formas dos animais que por lá habitam.

Gostaram? Espero que sim, eu acho-a muito engraçada. Agora vou começar a olhar para as nuvens a ver se encontro alguma com forma de felino e perceber se há por lá algum parente meu.


Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares